“A religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira,
pelos inteligentes como falsa,
e pelos governantes como útil.”
Sêneca
A recente divulgação dos músicos mais vendidos no Brasil em 2006 é aterrorizante. O álbum mais vendido no ano passado foi “Minha Benção”, do padre Marcelo Rossi. O segundo lugar, possivelmente um verdadeiro artista, ficou com Caio Mesquita, um saxofonista de apenas 16 anos, uma espécie de “Kenny G brasileiro”. O terceiro lugar, trouxe de volta o tom da pobreza cultural do país: RBD.[1]
Só aqui nesse país podemos ver um religioso vender mais discos do que os verdadeiros artistas!
Se Marcelo estivesse na nos idos de 1800 ele temeria por sua nova categoria profissional. “Naquela época, muitas igrejas se negavam a oferecer ritos religiosos ao corpo dos artistas, que eram considerados párias: uma casta de perdidos.” [2]
Diante desta aberração mercadológica fiquei imaginando a condição sócio-econômica dessa população consumidora, nem vou citar a condição intelectual. Mais estapafúrdio ainda é pensar que esse ocorrido (bastante lucrativo!) foi agravado por um pré-marketing da vinda do Papa. Se marketing comercial já é nefasto em suas bases, ganancioso nos fins e deletério ao ser humano, que adjetivo eu deveria usar para o marketing religioso?
O Brasil é o maior país cristão do mundo: 138 milhões de católicos e mais de 24 milhões de pentecostais. [3]Tradução: 92% de fiéis cristãos!
De fato: num país de proporções continentais como o nosso, a religião cristã é mesmo a nossa maior praga. Ela grassa abundantemente em cada rincão, periférico ou não, e consegue dividir fiéis e opiniões entre católicos, protestantes, espíritas e tantas outras novidades recém criadas. Estatístico e comprobatório da teoria de que quanto maior o número de igrejas, maior o caos social. “Elas disseminam-se com facilidade em ambientes caóticos. Contar o número de igrejas pode funcionar como um forte indicador social. Elas brotam mais rápido no meio da pobreza e do desespero. Portanto, se houver muitas igrejas por perto, é sinal inequívoco de que a situação está preta”.[4]
São pecadores tiranizando pecadores’. Como bem disse Reinaldo Azevedo “É claro que a ignorância e a pobreza são o fermento da safadeza disfarçada de religião. Mas não se pode tirar de um trouxa o direito, sagrado para a democracia, de ser enganado”. [5]
Cada vez mais se percebe como a religião mantém os seres bovinizados o suficiente para que a política possa usurpar e abusar do seu poder. Pessoas enfraquecidas e desconhecedoras de seus próprios poderes não opõem resistência porque não podem fazê-lo. E são facilmente manipuláveis e suscetíveis.
Enquanto Marcelo ganha grana falando de deus e todos se mobilizam pra receber mais grana com a vinda do reacionário Bento, os políticos fazem falcatruas, por cima e por baixo da mesa e os meios de comunicação só mostram o que possa manter o emburrecimento e a dominação. Conclusão óbvia: política + religião = lucro. Taí a história das civilizações que não me deixa mentir!
Mas aonde é que tudo isso vai levar esta nação?
Será que ainda teremos a chance de nos empoderar e desencavar lá do mais íntimo, a têmpera necessária para a luta, o instinto de preservação e o poder de defesa?
[1]Folha On Line: “Padre Marcelo lidera ranking dos CDs mais vendidos em 2006” http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u69422.shtml
[2] Citação em: http://doctaignorantia.wordpress.com/2006/12/29/doutrina-lei-e-consciencia/
[3] “Ainda que o Brasil seja considerado o maior país católico do mundo(Dados segundo a Santa Sé), os últimos levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam uma queda da porcentagem de católicos e destacam o crescimento de evangélicos e pessoas que declararam não ter religião alguma no País”. Em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/papa_no_brasil/2007/04/17/a_diversificacao_religiosa_e_a_fuga_da_igreja_catolica_753981.html
[4] “Obrigado, igrejas”por Gustavo Incizzo em CMI: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/05/281804.shtml
[5] No Blog do Reinaldo, em: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/